QUEM LUTA SEMPRE VENCE: por afirmar sua condição de sujeito histórico; por não aceitar trocar sua dignidade pelas migalhas que lhes oferecem; por ocupar seu lugar na sociedade e lutar para mantê-lo. E os trabalhadores da limpeza pública foram ainda além. Quase todos negros, todos pobres, todos favela e periferia. Herdeiros dos escravos, ex-escravos, marginalizados, prostitutas e prisioneiros que no passado limpavam e carregam o lixo, invisiveis nos dias de hoje, decidiram um dia que podiam romper as cordas invisiveis que lhes prendiam no pelourinho da exclusão.
E resolveram expor à sociedade o lixo de sua democracia. Contra o prefeito e a diretoria do sindicato, que não admitiam que eles, os invisiveis, subissem ao palco do protagonismo, chamaram a justiça da subserviência, o braço armado da repressão e a guarda pretoriana do Paes para lhes dar uma lição, como faziam os senhores de engenho e seus capitães do mato.
Não adiantou. Os negros trabalhadores da coleta de lixo continuaram marchando pelas ruas caras da zona sul como homens livres, exigindo seus direitos, desafiando a ordem e as ordens do prefeito de retornar ao trabalho. E o prefeitinho os chamou de bandidos e delinquentes. Não ameaçou açoitá-los, mas os ameaçou de jogar na rua, na fome e na miséria, ao demitir 300 deles.
E não adiantou. As ruas amanheceram com centenas, milhares, de homens e mulheres dizendo que continuariam a lutar. E venceram! 7 dias de greve. E no oitavo, sem descansar, falaram que só voltariam a trabalhar se o prefeito desse R$ 1.100,00 de salário, mais adicional, mais vale refeição de R$ 20,00, mais 100% de hora-extra, nenhuma demissão e outros benefícios.
E diante daqueles homens e mulheres que aprenderam o caminho da luta, o valor da dignidade, da ação coletiva, o prefeito teve que ceder. Os trabalhadores da limpeza pública do Rio de Janeiro deram uma grande aula de luta, dignidade e de organização.
Somos todos GARIS!
Walter Takemoto – Educador e Diretor no Instituto Abaporu de Educação e Cultura