Falar em pleno emprego no Brasil é uma temeridade e embute interesses escusos, disse ontem o economista da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), Alexandre Loloian. Ele fez este comentário ao ser perguntado se o ingresso de 80 mil pessoas na População Econômica Ativa (PEA) na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) em agosto, e de 135 mil na PEA das sete regiões metropolitanas do País nas quais a Seade e o Dieese coletam informações sobre emprego e desemprego, não implicará menores salários para os novos trabalhadores contratados.
A discussão se acalorou a partir do momento em que Loloian defendeu a tese de que os analistas do mercado são “irresponsáveis” ao imputar nas análises macroeconômicas a premissa de que os salários e a renda estão em níveis elevados por causa de uma eventual escassez de mão de obra. “Como podemos falar em dificuldade das empresas em encontrar gente para trabalhar se na região metropolitana de São Paulo a taxa de desemprego atinge 11,6% da PEA e temos um contingente de 1,3 milhão de pessoas sem emprego?”, disse Loloian.
Ele lembrou que em Salvador a taxa de desemprego em agosto chegou a 18,8%. “É claro que um ou outro setor tem encontrado dificuldades para contratar funcionários com elevado grau de preparação, mas não estamos aqui para discutir especificidades”, afirmou. A PEA, de acordo com ele, se manteve estagnada por algum tempo porque a atividade econômica estava parada.
“As pessoas percebem isso e não saem para procurar emprego”, disse, acrescentando que 75% dos empregos resultam de informações entre familiares, vizinhos e de currículos que parentes e amigos levam para as empresas, disse. Mas, agora, colocou, as expectativas que se tinha de que a economia passaria a reagir a partir do segundo semestre começam a se consolidar. “E as pessoas estão sentido esta melhora. Estão mais otimistas em relação à maior facilidade para encontrar um emprego e isso está pressionando a PEA”, completou ele. “Tem analista por aí dizendo que a renda está alta porque o desemprego é baixo. Isso é uma irresponsabilidade. Brandir que aposentados voltem para o mercado de trabalho para substituir jovens que estão estudando, por exemplo, é um retrocesso sem precedentes”, criticou.
Ele rejeita a possibilidade de as empresas trocarem funcionários por mão de obra mais barata coma chegada de mais pessoas à força de trabalho. Ele destaca o aumento da formalização e a maior consciência do empregador. “Antes, as empresas demitiam ao menor sinal de piora da economia pois sabiam que na sequência poderiam recontratar sem grandes custos”, afirmou. “Hoje, o empresário sabe que até a aclimatação do novo empregado à cultura da empresa gera um custo”, completou.
Fonte: DCI