Além dos milhares de desabrigados do terremoto de 2010 e da miséria crônica, o Haiti vive hoje mais um drama: aproximadamente 10% das crianças haitianas trabalham em condições análogas à escravidão. A conclusão consta de um relatório divulgado ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). O levantamento faz parte de uma iniciativa lançada pela agência das Nações Unidas, juntamente com os governos do Brasil e Estados Unidos, para eliminar o trabalho infantil no país caribenho, o mais miserável das Américas.
Pelas estimativas, 225 mil crianças haitianas são submetidas diariamente a trabalhos domésticos intensos em uma prática secular no país conhecida em creole como “restavek” (“ficar com”, na tradução literal) — a troca de abrigo em uma casa por trabalhos com a limpeza e manutenção do local. Depois do terremoto que matou mais de 200 mil pessoas, milhares de órfãos foram levados a cidades que não haviam sido atingidas e onde viviam parentes. Muitas dessas crianças passaram a sofrer o restavek.
A migração de menores de idade foi incentivada por várias agências humanitárias e ONGs, as quais tentavam evitar a todo custo o aumento dos sequestros infantis. Mas o que a OIT alerta é que uma parte substancial dessas crianças que foram enviados a outras cidades haitianas acabaram sendo transformados em trabalhadores domésticos, atuando até 14 horas por dia numa espécie de “escravidão moderna”.
Muitos menores têm sido usados para trabalhar na cozinha e preparar as refeições das famílias que os acolhem. Mas só são autorizadas a comer os restos e não são pagas pelo trabalho. “O resultado é um alto nível de má nutrição”, indicou o relatório divulgado pela OIT. De acordo com a entidade, em média uma criança na condição de “restavek” é 4 centímetros mais baixa do que a média de sua idade no país e até 20 quilos mais magra. “As vítimas são invisíveis e vulneráveis a todo o tipo de exploração”, denunciou a agência das Nações Unidas.
Fonte: Jornal da Tarde