Com o enfraquecimento da economia brasileira nos últimos meses, a expectativa dos economistas é que o mercado de trabalho formal dê sinais mais claros de acomodação em maio, com estabilidade na taxa de desemprego e ritmo semelhante na criação de vagas de emprego. Levantamento realizado pelo Valor Data aponta a criação de 201,3 mil postos de trabalho no período, abaixo das 217 mil vagas abertas em abril, segundo a média das estimativas de sete instituições para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Já a perspectiva média de 11 instituições para a taxa de desemprego apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que ela fique estável no período, em 6%. Os dois indicadores serão divulgados hoje.
Para os economistas, o mercado de trabalho está refletindo agora o que aconteceu com a economia brasileira nos três primeiros meses de 2012. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior, decepcionando os economistas, que previam aumento em torno de 0,5%. A expectativa era de que a economia brasileira começasse a acelerar, após seis meses fracos. “A resposta do mercado de trabalho à atividade econômica é dada com defasagem. O que vemos agora no emprego é uma reação ao passado, da mesma forma que os reflexos da falta de fôlego na economia neste trimestre irão aparecer no mercado de trabalho só lá na frente”, diz Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria.
Pelos seus cálculos, foram criadas 195,5 mil vagas entre abril e maio, período no qual a taxa de desemprego teria permanecido em 6%. “Se olharmos os dados do IBGE, veremos que o emprego formal está desacelerando. O que está sustentando a taxa de desemprego no patamar atual é o emprego informal”, ressalta o economista referindo-se à Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Segundo ele, é por isso que o cenário apresentado pela PME, que computa o emprego informal, se mostra mais confortável que o revelado pelo Caged.
Devido ao ambiente econômico incerto, argumenta Bacciotti, houve uma certa moderação nas contratações com carteira. “Isso não significa uma inversão no processo de formalização. Ele continua, mas em ritmo mais lento.”
Outro ponto de divergência entre a PME e o Caged, notado por Leandro Câmara Negrão, do Bradesco, está no comportamento do mercado de trabalho nos centros metropolitanos e nas demais regiões do país. Segundo o economista, nas áreas metropolitanas a ocupação ainda está acelerando, enquanto nos demais locais o movimento é contrário, de desaceleração. “Uma explicação para esse descasamento pode estar nos setores de atividade. Nas regiões metropolitanas, os serviços e o comércio são mais representativos e, como esses setores apresentam maior robustez, estão puxando o emprego. Por outro lado, o interior, que é mais dependente da indústria e da agricultura, sofre mais, já que esses setores dão sinais de enfraquecimento.”
A avaliação de Negrão se baseia na média móvel trimestral, considerada por ele um indicador de tendência mais preciso que a variação mensal. Os dados calculados pelo Bradesco mostram que nos centros metropolitanos a geração de emprego subiu de 30,8 mil em dezembro para 46 mil em abril, ao passo que nas demais regiões a criação de vagas passou de 63,5 mil para 53,4 mil no mesmo período, feitos os ajustes sazonais.
Negrão acredita que, entre abril e maio, surgiram mais 180,6 mil postos de trabalho no país, o que equivaleria a 84,1 mil novas vagas considerando seu ajuste sazonal. Esse montante, em sua opinião, é pequeno. “Estamos falando em criar neste ano metade dos empregos gerados em 2010, mas não deveremos ver fechamento de postos de trabalho.”
O economista ainda chama a atenção para a perda de ritmo nos reajustes salariais. Pelas suas contas, o aumento médio real deve baixar de 4% no primeiro trimestre para 3,6% no segundo. “A elevação ainda está superando a média história, que está em 2,1% entre 2010 e 2012, mas com aumentos menores, o mercado de trabalho fica menos pressionado.”
Fernanda Consorte, economista do Santander, lembra que, segundo o Dieese, 30% das categorias têm reajuste salariais em maio, o que deve contribuir para que, no mês, o rendimento real tenha crescimento significativo. A economista vê um cenário mais animador para o mercado de trabalho, já que a demanda das famílias continua forte, permitindo que a população ocupada em setores como comércio e serviços continue a avançar.
No segundo semestre, diz Fernanda, a expectativa é de fortalecimento do mercado de trabalho, ante a aposta de resposta da atividade aos estímulos em curso, como o corte de 400 pontos-base na taxa básica de juros.
Fonte: Jornal Valor